terça-feira, 10 de julho de 2007

Neste São João tem arrasta-pé...

Este São João em Campina Grande foi um dos melhores. Muitos turistas, muito movimento, muita gente bonita, muitas vendas. Portanto, um Sucesso. Eu, claro, me diverti muito, mesmo tendo comparecido ao Parque do Povo, ou Sítio São João, ou Açude Novo algumas vezes. Mas me encantei com tanta gente se divertindo.
Todavia, dois dias me chamaram a atenção, neste São João, o dia do show de Flávio José e Alcymar Monteiro e o último dia (este, eu não fui, só fiquei sabendo), com o show da banda Calcinha Preta. Flávio José com sua sanfona, acompanhada da zabumba, pandeiro, triângulo e outros instrumentos, cantou o amor tendo a lua malandrinha observando meu cenário de amor, cantou a vida com tareco e mariola, cantou a mulher saudade já tem nome de mulher só pra fazer do homem o que bem quer...
Alcymar Monteiro, não menos acompanhado, cantou nossa gente ver os pegá de boi/Andar nas vaquejada/Dormir ao som do chocalho/E acordar com as passarada/Sem rádio e sem notícia/Das terra civilizada. Alcymar, ainda cantou o amor Ela nem olhou pra mim, ela nem olhou pra mim/ Quando fui na euforia coração de alegria/ gritou mais que um bandolim/ chegou feito uma princesa coroada de beleza/ e nem se quer olhou pra mim.
Já Calcinha Preta cantou, pelo seu próprio repertório, sua própria banda É da Calcinha que eu gosto/ Carrego no coração/ Inverno ou verão estou esperando você/ É da Calcinha que eu gosto. Cantou também a juventude Eu me amo demais/eu não perco um forrozão/eu adoro vaquejada/vivo a vida com emoção/o meu bolso é minha guia/ a bebida é a razão/ sou um cara apaixonado/por mulher e boi no chão. Por último, Calcinha Preta canta o amor, dentre tantas composições que falam do amor, Eu vou fazer um leilão/quem dá mais pelo meu coração?/ estou a beira da loucura/ninguém mais me segura/estou fora da sua vida/ eu já fui...

Comparar esses shows, não posso, mas posso questionar a qualidade da musicalidade e das composições apresentados nestes shows. Enquanto Flávio José e Alcymar Monteiro cantam nossos costumes, vivências, convivências, relações, amores, dizendo letras trabalhadas, no mínimo primando pela originalidade.Calcinha Preta como Cavaleiros do Forró, Limão com Mel, Saia Redonda e tantas outras cantam a mesma coisa, ou qualquer coisa, basta botar dançarinos semi-nus e dizer que o "Amor é lindo!"
Se estou parecendo preconceituosa, eu sinto muito. Mas estou cansada dessa cultura descartável, massificada. Não sabemos mais quem somos ou o que somos. Fico pensando: o que as futuras gerações vão pensar, ou mesmo, vão dizer desta? Talvez, esperar que jovens de outras regiões como os da banda Fala Mansa não deixem morrer a nossa cultura.

4 comentários:

Unknown disse...

Oi Graça. Concordo quando você questiona sobre como as gerações futuras irão encarar esta geração atual. Será que terá algo proveitoso, do ponto de vista cultura, para ser lembrado futuramente pelos nossos filhos e netos? Espero que dentre tantas "coisas descartáveis" atualmente, algo seja, pelo menos, aproveitado nem que seja como exemplo para nunca mais se repetir. Um abraço, Alexandre.

Anônimo disse...

Muito legal, adorei seu estilo de escrita e o assunto também. Concordo com você, o mau gosto na elaboração das letras das músicas é grande, além do que não são criativos nem no ritmo e muito menos nas coreografias. Também vale ressaltar a concepção de mundo, de homem, de relacionamento que é difundido nas músicas e nos shows, algumas delas posso até citar: "mulher é rapariga", "homem bom deve ser raparigueiro", "estar na moda quem é cachaceiro", entre outras questões que vão sendo internalizadas pelas pessoas, e aos poucos vão achando normais. Isso é algo que me preocupa. Infelizmente não é só visto no forró eletrônico ou "forró de plástico", mas também no forró pé-de-serra. Para muitos isso é o "lixo cultural", no entanto, tal afirmação é complicada...
Esse assunto é bem polêmico, mas no momento é só, depois continuarei a conversa.
Parabéns Graça pelo seu blog.
Mayam

Anônimo disse...

É isto mesmo, cara colega!
Degustei o seu texto e, fazendo-o, atiçou-me, como bom nordestino, a vontade de deixar algum adendo às críticas (bem merecidas) por você expostas no seu comentário.
Gostaria que outras pessoas, ao seu exemplo, se importassem com a triste realidade por que passa a nossa tão preciosa música popular nordestina.
Quando você se refere aos instrumentos (zabumba, triângulo e sanfona) me bate a saudade do Trio Nordestino, dos Três do Nordeste e outros tantos que, a exemplo do já citado Fala Mansa, não necessitavam, ou não necessitam, de uma "parafernalha" de instrumentos (que na maioria dos casos não se convergem)para transmitir suas doces e sábias mensagens poéticas e musicais.
O que temos hoje? Uma gama de grupos irresponsavelmente improvisados, sem nenhum compromisso com a legítima cultura da nossa terra; se auto-denominando de "banda" e, por não disporem, por pura incapacidade, de algum tipo de atrativo que faça jus à sua BANDAlheira, expõem mulheres de igual valor estético e cultural, exibindo coreografias desconexas e absurdas, vulgarizando impiedosamente a imagemda nossa cultura musical, bem como a dantes valiosa reputação das nossas conterrâneas.
Tempos bons aqueles vimos e vivenciamos...
Hoje, não posso reprimir os impulsos do meu neto, quando o flagro vez por outra sofrejando as "imusicalidades" que o seu tempo lhe presenteia; aprendendo, através dos veículos de comunicação de massa, adjetivos e prejorativos para os quais eu jamais ousaria despertá-lo.
O que será do seu "gosto musical"? O que será preciso para que as autoridades enxerguem de maneira correta, o que esse tipo de "abertura" está causando às cabeças dos nossos futuros compositores?
Até quando ainda teremos músicas?
Acho que não devo me desfazer dos meus velhos LPs... Vou guardá-los num baú, lá num cantinho bem encondidinho do alçapão, pois, quem sabe, se um dia o meu neto induzido pelas curiosidades dos filmes de aventura ,descubra-o e descubra a grandiosidade do tesouro que o vovô deixou.
Estou com você, cara colega!
Um abraço,
Alfrânio.

Eu por eu mesma disse...

Olá Graça!


São poucas pessoas que se preocupa com a originalidade da nossa cultura, nossa MÚSICA, nossa DANÇA, nosso CANTO. Não sou do antigamente, mas, é como se fosse, pois carrego nas minhas veias a voz maviosa do nosso querido e saudoso “Luiz Gonzaga”, a voz do sertão. Como já citado, o TUM, TUM, TUM da zabunba dos três do Nordeste entre outros que marcaram a Música Nordestina fazendo-nos lembrar das festinhas da roça, das mãos ralando o milho, do quentão, ainda posso sentir o cheiro. Ah! Quantas saudades do tempo de outrora, onde se dançava agarradinho sem que fosse preciso fazer movimentos acrobáticos, a não ser o de coxa com coxa, e fungado no pescoço...
Gosto das pessoas que se interessam com a nossa cultura, já gostava de você e agora então...
Parabéns pelo seu blog!
Obs: Quando vamos comemorar o seu BLOG? rsrsrsrs

Negona